O SER HUMANO MULTIMÍDIA E SEM ESSÊNCIA



Aqui vamos conversar um pouco sobre como o ser humano tem perdido grandes oportunidades de ação e crescimento neste novo mundo multimidiático. Boa leitura!


Acompanhamos o ritmo frenético do desenvolvimento das mídias digitais que tem transformado a sociedade e oferecido um aporte inesgotável de informações aos seres humanos, mudando o rumo da história, pois dá a oportunidade do conhecimento imediato e  também oferece às pessoas a oportunidade de transformar essas informações em sabedoria.

Ocorre que a mesma rapidez que nos ajuda, pode também nos prejudicar, lembrando do alquimista suíço-alemão de pseudônimo “Paracelso”, que disse por volta de 1480: “A diferença entre o remédio e o veneno é a dose”, é exatamente assim que funciona.   

A rapidez com que as coisas acontecem é impressionante, hoje temos o privilégio de saber tudo em fração de segundos e ao mesmo tempo. Em minutos a informação se torna obsoleta, superada por uma nova dose e assim sucessivamente.  A descartabilidade das informações e coisas, à alta velocidade acabou-nos apresentando como normal este mundo descartável, desde os copos, pratos e talheres descartáveis, às coisas, informações e também as pessoas.

Sim, pessoas descartáveis, aquelas que não são mais necessárias. Da mesma forma que tudo vem acontecendo rapidamente, os relacionamentos e os resultados destes também tornaram-se descartáveis. Um dos maiores fracassos humanos é quando se alcança o nível do descartável na gestão dos relacionamentos, seja de uma simples amizade a algo mais significativo como ser pai e mãe. Este novo e rápido mundo além de ex-amigos, ex-maridos ou ex-esposas, apresenta-se a figura do ex-filho.

 Como podemos explicar esse fenômeno? Já começamos a explicar no início deste artigo e analisando com mais profundidade, além do fenômeno da descartabilidade, temos outro fator de mudança acontecendo no cenário midiático. No passado os apresentadores de programas de TV iniciavam seus trabalhos saudando os telespectadores, ou seja, quem assiste, presencia ou tem expectativa, para encurtar o conceito.

 A grande mudança neste cenário midiático foi que não temos mais espectadores, o que por um lado é excelente, aparece hoje a figura do “protagonista”. As mídias digitais e redes sociais favoreceram o aparecimento do protagonismo e qualquer ser humano , independente de raça, credo, classe social ou outro fator, tornou-se autor da sua própria comunicação.

 É emocionante e muito importante curtir esse momento da história, onde o poder da comunicação está deixando a mão de poucos e está sendo compartilhado com todas as mãos que queiram valer-se desta ferramenta e também importante acompanhar com cautela este fenômeno do protagonismo, porque sentindo-se que tudo podem, os excessos, a dose que transforma o remédio em veneno, ganha força e o tal protagonismo passa a direcionar a apontamentos, indicações, discursos e o prato principal que poderia dar vigor ao protagonismo, a ação, infelizmente não ocorre, porque simplesmente existe um abismo entre falar e fazer.

 Neste primeiro momento temos visto crescer vertiginosamente uma legião de faladores que não se materializam em uma igual legião de fazedores. Os fazedores são ainda aqueles que acabam executando algo importante e gerando valores à sociedade. O mundo virtual das mídias digitais e sociais ainda não conseguiu mover completamente à ação, justamente por conta do abismo entre falar e fazer. 

 Apontar, indicar, discursar, não gera compromisso ou comprometimento. Vemos diariamente nas redes sociais pessoas transmitindo as famosas “lives”, apontando, indicando, discursando e retratando, porém, na maioria das vezes sem ação, sendo a única ação a transmissão. Essa característica da indicação, apontamento, e discurso, neste mundo onde espera-se todas as soluções em alta velocidade, causa um encurtamento da paciência, onde o “novo protagonista da história” cobra de imediato as soluções para o que apresenta.

 Toda essa rapidez na transmissão, na absorção das informações, enfim, toda esta velocidade de acesso a tudo, gera também em igual proporção  uma impaciência incomum com as coisas que dependem de um ciclo real e natural. Tenho acompanhado muitos corações endurecidos e impacientes que surgem e se fortalecem com o binômio falar e fazer, ou seja, apontam, mas não executam.

 Normalmente não me surpreendo com marcações nas redes sociais quando as pessoas estão ajudando outras. Alguém está passando por dificuldade e necessita de algo básico como alimentos ou vestuário. As pessoas vêem a notícia, tomam conhecimento do fato e acabam marcando-me e nisso sou notificado: “fulano marcou você e outras x pessoas na publicação tal”. Vou lá ver e tem alguém pedindo ajuda.

 Na minha visão aquele que marcou poderia ajudar mas não o faz porque está na rede social para apontar, indicar e discursar, não consegue executar, isso depende de ferramentas antigas como a ação real, no mundo real. E por estar distante destas ações reais do mundo real o coração vai endurecendo cada vez mais até atingir pontos indiscutíveis até mesmo da falta de educação.

 Uma coisa puxa a outra: Temos a velocidade da absorção dos fatos, que não se transformam em sabedoria porque são descartáveis demais. Temos muita gente falando e nada fazendo, sendo protagonista do nada e indicando aos que fazem, porque não querem se comprometer,  o que fazer, pois estão cada vez mais sem paciência e com o coração endurecido, culminando na perda dos valores básicos como a boa educação, demonstrada quando você faz uma pergunta em um aplicativo de troca de mensagens em um grupo específico para tal assunto e ninguém responde. Daí nós vemos que todos viram, leram e não responderam.

 Onde está a velocidade?

Onde está o protagonismo?

Onde está o compromisso?

Onde está a bondade?

Onde está a educação?

 Com a influência das mídias digitais e sociais o ser humano precisa aprender a não se lambuzar no doce e saber diferenciar a dose do remédio e do veneno. A capacidade de se auto-avaliar deve ser recuperada ou aprendida e o ser humano deve rever seus conceitos sobre realmente ser humano em tempos multimídias digitais e sociais. Nada impossível para quem já aprendeu tanto e o grande desafio que se apresenta é justamente desaprender o que achava que sabia e reaprender a realmente ser humano.




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